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16º Domingo depois de Pentecostes - 29/09/2019 (Podcast)

1ª Leitura: Amós 6. 1, 4-7  - Salmo 146
2ª Leitura: 1 Timóteo 6. 6-19 - Evangelho: Lucas 16. 19-31

Na primeira e segunda leitura deste domingo, é clara a denúncia de que a raiz de todos os males e pecados é o amor a Mamon (a riqueza, o dinheiro, o lucro, muitas vezes personificado como um deus).

Dos quatro evangelhos, o de Lucas é o mais radical e duro contra a riqueza (Mamon). Lucas coloca no canto de Maria, o Magnificat, “Ele derruba os poderosos e eleva os humildes. Dá fartura a quem têm fome e despede ricos sem nada.” (Lucas 1.52-53) Nas Bem-aventuranças, Lucas é o único que, além das esperanças para os pobres, ameaça os ricos: — Mas ai de vocês que são ricos, pois já tiveram a vida boa. — Ai de quem têm tudo, pois vão passar fome. — Ai de quem está rindo, pois vão chorar. Lucas 6.24-25.

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A parábola do Evangelho de hoje fala de Abraão como se fala de Deus. O que nos remete a uma tradição muito antiga e o fato de ela se chamar Deus de pai Abraão parece vir de fontes da religião cananeia, mais que da tradição bíblica. “Etimologicamente, o nome Abraão representava o próprio Deus: ´abiran. É a este deus ao qual os reis cananeus e também o patriarca Abraão adoravam” (Cf. Gn 14, 18). Chamo a atenção para isso porque a parábola fala de castigo divino, céu e inferno, depois de ouvirmos todo o capitulo 15 falar da infinita misericórdia de Deus.

Ora muitos estudiosos como Marcelo Barros diz: “essa parábola própria do evangelho de Lucas, é como um conto da religião popular da época. Só assim podemos aceitar essas imagens que condena uns ao inferno eterno e sem remissão. Essa mesma história foi encontrada na antiga literatura egípcia. E há contos semelhantes em livros judaicos da época do final do primeiro testamento. É uma crença totalmente diferente da tradição bíblica. Na tradição judaica da época de Jesus, não havia essas imagens opostas (o seio de Abraão como céu e o fogo eterno como inferno). O Judaísmo acreditava na “morada dos mortos”. (Morreu, foi sepultado e desceu à mansão dos mortos). Chamavam isso de Sheol, mas nenhum texto diz que era um lugar de tormentos. Era um estado de sombra, mas não tinha essa imagem de fogo. Textos evangélicos que falam em fogo inextinguível, se referem ao Vale da Geena, lugar fora dos muros de Jerusalém, onde se enterravam os mortos, jogavam cadáveres de animais e se queimava lixo... Ali havia fogo permanente como os lixões de hoje e serviu para textos apocalípticos falarem do fogo do inferno. Isso vem dos apocalipses judaicos do final do primeiro testamento, portanto depois de Jesus.

A parábola trata da relação entre rico e pobre. Apesar de dizer “havia um homem rico e um pobre”, não fala de um determinado rico e um certo pobre, pois não diz que o rico é ruim ou mau, e o pobre é bom. O que caracteriza o rico é o vestir, divertimento, e a fartura na refeição, e o pobre é a falta de roupa (o corpo coberto de feridas), de comida, e de dignidade (costumavam larga-lo perto da casa do rico). Ambos mortos, a situação é oposta e o Rico sofre e pede socorro, “Mande que Lázaro molhe o dedo...”. É interessante que mesmo nessa situação o rico continua vendo o pobre como mero serviçal e isso com as características acima serão as causas da sentença, não aparece sentimentos ou caráter de um ou do outro. A acusação é o versículo 25 — Abraão respondeu: Lembre que você recebeu na sua vida todas as coisas boas, porém Lázaro só o que era mau. E agora ele está feliz, enquanto você está sofrendo”. Diante disso, o rico fala como se não soubesse dos seus erros, e pede para que seus irmãos sejam avisados. Ora, avisados de que? De onde está e do por que está ali, pois agem do mesmo jeito que ele agia. A resposta a este pedido desmente que os ricos não saibam disso, e está no versículo 29, Os seus irmãos têm a Lei de Moisés e os livros dos Profetas para os avisar. Que eles os escutem! O rico ainda argumenta no verso: Só isso não basta, E a parábola termina com o rico sendo novamente desmentido: Se não escutarem Moisés nem os profetas, não crerão, mesmo que alguém ressuscite. Ou seja, se não ouvem a palavra de Deus, não ouvem mais ninguém.
É importante também que mesmo nesta crença, não é Deus quem manda o rico para o inferno, mais a escolha do rico, Deus apenas diz: Há um grande abismo entre nós, e que nem ele pode mudar isso.

Pessoal, nós temos mania de pensar na pessoa rica má ou boa. Porém esta parábola nos diz que não é discutido o sentimento do rico nem do pobre. O que é levado em consideração é a vida que um e o outro leva. No caso do rico é o individualismo e o acúmulo.

A riqueza é em si, dela provem toda a injustiça. Quem vive a riqueza vive a distância que Mamon cria entre as pessoas. Vive a falta da partilha, o desamor que é o verdadeiro inferno. Não escuta a palavra de Deus, ou pior, muda a Palavra em seus interesses. Por isso é idolatria, porque sua lógica de vida passa a ser a lógica dos seus interesses e lucro e não a lógica do Reino de Deus. Essa lógica diabólica é a que cria invasões de terras indígenas e quilombolas. É o que cria o extermínio de jovens e especialmente negros nas periferias das grandes cidades, que cria o trabalho escravo, é o que criou as lamas tóxicas que causaram e causam tanta morte no Brasil.

Precisamos ter cuidado, pois sabemos que não conseguimos viver neste mundo sem dinheiro, mas não podemos colocar o lucro e os valores de Mamon, acima das relações humanas, e os valores do Reino de Deus.
Para isso o centro de nossa celebração é a Eucaristia, como sinal da nossa vida comunitária e de Partilha.

Que nossas atitudes nos leve a celebra a partilha como verdade do Reino em nossas vidas.

E que o Senhor esteja conosco. Amém.

Voz: Rev. Marcos Barros