A cada ano, no mês de dezembro a Igreja nos convida a relembrar a história do nascimento de Jesus, a enfeitar nossas comunidades e nossas casas, e a preparar nossas vidas, pois é Natal! Natal é tempo de alegria, de festa. É tempo de apelo à paz que Jesus vem trazer. Lembra-nos o gesto de Deus partilhando sua vida conosco – “E o verbo se fez carne e habitou entre nós...” (Jo 1:14). O Natal é, tempo de fraternidade, de esperança e de partilha. É um grande acontecimento de reconciliação, porque o Filho de Deus, assumindo na Encarnação a nossa natureza humana, torna-se um de nós. E ao vir participar de nossa vida Jesus nos une a Deus e nos chama a unirmo-nos todos como irmãos e irmãs ao seu redor.
As lições que são proclamadas nas liturgias deixam bem claro que o Natal, sendo aparentemente uma realidade tão corriqueira (um nascimento como tantos outros), é contudo, a intervenção de Deus na história humana, e em favor da humanidade. Dos quatro evangelistas, Lucas é quem descreve com mais detalhes o nascimento e um pouquinho da infância de Jesus, no entanto para relatar o momento do nascimento ele diz somente: “Ela (Maria) deu à luz o seu filho primogênito, envolveu-o em faixas e deitou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria.” (Lucas 2:7). Foi a tradição da Igreja que, com muita imaginação, situou este lugar como sendo realmente uma gruta/estábulo com feno, animais e cochos. O nascimento de Jesus revela-se como uma grande mensagem para a humanidade, trata-se do reconhecimento do Cristo, do Messias, que mesmo sendo o Filho de Deus, nasce na humildade e na pobreza, nasce como migrante, é excluído, perseguido, necessita fugir para o Egito, tornando-se assim um refugiado.
Tomando contato novamente com a história do nascimento de Jesus, eu neste ano, não pude deixar de lembrar da crise migratória mundial que estamos vivendo, não pude deixar de pensar na grande quantidade de pessoas imigrantes e refugiadas que estão pelas ruas de nossas cidades.
Para os cristãos e cristãs viver o “espírito do Natal” implica em buscar dignidade de vida para todas as pessoas. Quando nos deparamos com as condições em que Jesus nasceu, isso nos remete as condições em que tantos outros bebês estão nascendo em várias partes do mundo, nos remete ao fato de que, assim como aconteceu com Jesus e sua família em seu nascimento, esses bebês e suas famílias estão expostas à diferentes formas de preconceitos e violências.
Neste Natal tomemos consciência de que sem ter um lugar adequado, longe de sua casa e sem ter nem sequer um berço, nasceu o Emanuel, e compreendamos que no rosto de cada pessoa imigrante e refugiada é possível encontrar a face deste Deus Conosco. Um nascimento singelo na fria noite de Belém nos trouxe a Luz do mundo, e desde aquela primeira noite a humanidade foi tocada e experimentada por Deus, lembremos também que Ele é um sinal do amor e da misericórdia de Deus para com à humanidade.
Façamos nossa parte para que o “espírito do Natal” torne-se uma realidade em nosso meio, exerçamos a solidariedade e a fraternidade, digamos não ao racismo, à xenofobia e a todas as formas de intolerância, tornemos nossas comunidades espaços seguros de acolhimento para aquelas pessoas que, assim como Jesus, foram excluídas e despojadas de quase tudo.
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Belém, 16 de dezembro de 2018. AD.
Terceiro do Domingo do Advento, Ano C
+Marinez Rosa dos Santos Bassotto
Bispa Diocesana